Helga estava apressada. Havia
recebido ordens para atravessar a barreira para o mundo dos humanos, pois havia
uma emergência lá do outro lado. Emergências, emergências... sempre surgindo nas horas mais inoportunas. Talvez, se não fossem tão repentinas, não seriam tão incômodas. Mas
resolver problemas no mundo humano era necessário para que ela tivesse suas
habilidades aprovadas no Mundo dos Magos, ou na língua oficial, Wittklandt. Ela
estava em processo de teste de níveis e execução de magia com o objetivo de ser
promovida de cargo no sistema de segurança oficial do governo. Para tanto,
precisaria cumprir alguns trabalhos com destreza e ser aprovada pelo mestre
Elianov, um dos magos que distribuem as funções no estado bruxo. Helga era o
orgulho do mundo mágico: tinha somente 17 anos e já possuía níveis altos de
magia suficientes para realizar trabalhos que magos normais só conseguiriam
cumprir com 20 anos de estudos intensivos em magia. Por isso, havia alcançado o
cargo de Maga Inspetora provisória, e de acordo com seu desempenho, seria ou
não promovida a Maga Inspetora Oficial quando completasse 18 anos de idade.
Desta vez, um grupo de jovens japoneses
havia causado problemas ao invocar espíritos em um jogo estúpido que lhes havia
sido passado por algum mago mal intencionado. Era serviço de Helga consertar a
situação, fechando o portal para o mundo espiritual que havia sido deixado aberto
em um hospital abandonado numa cidade interiorana localizada no norte do Japão.
Porém, como poderia uma maga super branca, com olhos de cores diferentes e
roupas extravagantes aparecer de repente no Japão e realizar tal trabalho sem
chamar a atenção das pessoas? Fácil: Helga possuía habilidades metamórficas.
Era só se transformar em algo não chamativo e cumprir sua função discretamente,
que não haveria problemas.
O grupo de meninos havia
participado de um jogo cujas instruções lhes foram deixadas em um diário antigo
escrito muito tempo atrás por um mago aprendiz. É óbvio que o objetivo era
colocar algum curioso em apuros, e foi exatamente o que aconteceu. O diário foi
encontrado no sótão da casa de um dos garotos, Akio, que ficou extremamente
curioso e decidiu testar as instruções juntamente com os amigos em um lugar dito
como mal assombrado.
Depois de algumas pesquisas, o
local escolhido foi o hospital abandonado Matsutake, situado em uma pequena
cidade na província de Aomori. O hospital era coincidentemente perto da
vizinhança dos meninos e havia rumores de que à noite eram ouvidos gritos
terríveis de dor e desespero por quem passasse lá por perto.
Hiroshi, o “cabeça” do grupo,
escolheu uma determinada noite para o grupo de quatro amigos adentrar o local e
realizar o jogo. As instruções deixadas no diário pareciam um pouco estranhas,
mas a graça de jogar estava exatamente nesse ponto. Como todos eles eram
maníacos por assuntos sobrenaturais, realizaram o feito sem grandes
dificuldades. Os quatro tiraram suas roupas e lavaram seus corpos com um elixir
preparado de acordo com instruções anotadas no antigo diário. Depois, fizeram
os desenhos exatamente como indicados no manual, sendo o mais fiéis possível
para com o conteúdo descrito, e formaram um círculo, no meio do qual foi
deixado um facão. Por último, quando deu 2:00 horas da manhã em ponto,
recitaram o texto mágico que acompanhava as instruções em uma língua
desconhecida. “Isto não é alemão?”, pensou Uchida.
“Geisteswelt zain dor’o openan. Geisten’a Manenwelt nast mogan inkoman, Maen’a Geistenwelt nast mogan oisgean.”, recitaram todos juntos. A pronúncia parecia algo impossível de se dizer, mas milagrosamente saiu perfeita.
Passou-se um minuto e nada aconteceu. Eles estavam com frio e muito medo do lugar, que tinha um ar totalmente sinistro, mas esperaram ansiosamente por qualquer resultado. Então, quando bateu 2:02, o facão que havia sido deixado no meio do círculo se moveu repentinamente e se fincou no chão com grande força e um barulho estridente ecoou por todo o hospital. De repente, ouviram-se diversos gritos desesperados de pessoas vindos de todos os lados e um cheiro de morte e sangue invadiu todo o local. Os meninos, estupefatos, levantaram-se, pegaram suas roupas e fugiram correndo. Estavam em uma antiga sala de cirurgia e precisariam atravessar três corredores diferentes para poderem sair do hospital. Porém, a partir do momento em que saíram da sala, começaram a aparecer pessoas sobrenaturalmente pálidas por todos os lados. Eles haviam realizado uma cerimônia para abrir um portal para o mundo espiritual, fazendo com que os seres do outro mundo pudessem transitar livremente para o mundo humano e vice-versa. Além disso, como haviam feito contato com o mundo espiritual, podiam ver todos os espíritos atordoados que saiam da antiga sala de cirurgia. Era uma visão horrível. Só os gritos e murmúrios dos mortos causavam arrepios tremendos; vê-los, então, era indescritivelmente grotesco. Muitos eram projeções de corpos decompostos caindo aos pedaços. Outros tinham partes de animais mescladas a seus corpos, e alguns eram somente sombras disformes com rostos desfigurados.
Correndo, três dos meninos saíram do hospital meio vestidos, meio nus, sem notar que hes faltava um dos companheiros. Onde quer que olhassem, viam pessoas podres e pálidas vindo em sua direção e dando guinchos terrivelmente agudos. Então, instintivamente se dirigiram a um templo xintoísta que se situava a mais ou menos um quilômetro do hospital. A entrada do templo era perto, mas para chegar até ele em si, teriam que subir uma longa escada que os levaria até o topo de uma montanha. Durante o caminho, erguiam-se diversos “Torii”, uma espécie de fronteira entre o profano e o sagrado, erguida sempre em templos japoneses. Ao atravessar três “Torii”, eles enxergaram a figura de um sacerdote vindo ao longe, e então suas visões ficaram embaçadas e os três perderam a consciência.
“Geisteswelt zain dor’o openan. Geisten’a Manenwelt nast mogan inkoman, Maen’a Geistenwelt nast mogan oisgean.”, recitaram todos juntos. A pronúncia parecia algo impossível de se dizer, mas milagrosamente saiu perfeita.
Passou-se um minuto e nada aconteceu. Eles estavam com frio e muito medo do lugar, que tinha um ar totalmente sinistro, mas esperaram ansiosamente por qualquer resultado. Então, quando bateu 2:02, o facão que havia sido deixado no meio do círculo se moveu repentinamente e se fincou no chão com grande força e um barulho estridente ecoou por todo o hospital. De repente, ouviram-se diversos gritos desesperados de pessoas vindos de todos os lados e um cheiro de morte e sangue invadiu todo o local. Os meninos, estupefatos, levantaram-se, pegaram suas roupas e fugiram correndo. Estavam em uma antiga sala de cirurgia e precisariam atravessar três corredores diferentes para poderem sair do hospital. Porém, a partir do momento em que saíram da sala, começaram a aparecer pessoas sobrenaturalmente pálidas por todos os lados. Eles haviam realizado uma cerimônia para abrir um portal para o mundo espiritual, fazendo com que os seres do outro mundo pudessem transitar livremente para o mundo humano e vice-versa. Além disso, como haviam feito contato com o mundo espiritual, podiam ver todos os espíritos atordoados que saiam da antiga sala de cirurgia. Era uma visão horrível. Só os gritos e murmúrios dos mortos causavam arrepios tremendos; vê-los, então, era indescritivelmente grotesco. Muitos eram projeções de corpos decompostos caindo aos pedaços. Outros tinham partes de animais mescladas a seus corpos, e alguns eram somente sombras disformes com rostos desfigurados.
Correndo, três dos meninos saíram do hospital meio vestidos, meio nus, sem notar que hes faltava um dos companheiros. Onde quer que olhassem, viam pessoas podres e pálidas vindo em sua direção e dando guinchos terrivelmente agudos. Então, instintivamente se dirigiram a um templo xintoísta que se situava a mais ou menos um quilômetro do hospital. A entrada do templo era perto, mas para chegar até ele em si, teriam que subir uma longa escada que os levaria até o topo de uma montanha. Durante o caminho, erguiam-se diversos “Torii”, uma espécie de fronteira entre o profano e o sagrado, erguida sempre em templos japoneses. Ao atravessar três “Torii”, eles enxergaram a figura de um sacerdote vindo ao longe, e então suas visões ficaram embaçadas e os três perderam a consciência.
Helga estava se preparando para
atravessar o portal oficial para o mundo humano, que se consistia de um espelho
redondo de mais ou menos 5 metros de diâmetro deitado horizontalmente acima de
uma elevação que havia no chão do recinto. O espelho era todo enfeitado com
esmeraldas e ouro, o que lhe dava uma aparência mística. Para alcançá-lo, era
preciso subir por meio de uma escada de sete degraus. Tal portal se situava no
“Gaudenphalkespalais”, ou “Palácio do Falcão Dourado”, uma repartição do
governo onde eram realizadas todas as atividades relacionadas ao mundo dos
humanos. Normalmente, qualquer corpo que reflita imagens com mais de 65% de
precisão poderia ser utilizado como portal; porém, pelo portal oficial, a
possibilidade de falha no transporte é simplesmente inexistente. Portais
clandestinos tendem a levar pessoas para destinos errados se utilizados
erroneamente, e existe também a possibilidade de o transeunte ficar preso no “Aofgront” (abismo), um espaço criado
para separar o mundo mágico do humano.
Só faltava uma autorização de Elianov para que Helga pudesse passar para o outro lado, mas ele parecia estar tão ocupado com um caso grave de fuga de unicórnios negros para o Camboja, que havia se esquecido de dar o aval para a saída de Helga para o outro lado. Então, Helga teve a idéia de utilizar seu poder psíquico para entrar em contato com ele, mas foi tudo em vão. Infelizmente, ele havia bloqueado sua mente para não ser incomodado durante o trabalho. Só lhe restava esperar até que Elianov decidisse lhe dar atenção... porém, enquanto o tempo passava, a situação no Japão ficava mais grave. Os espíritos imundos se espalhavam cada vez mais, fazendo com que cada esquina ficasse mais perigosa do que o normal. Como eram, em sua maioria, espíritos condenados e cheios de ódio, causavam diversos acidentes pelos arredores do hospital inicialmente, além de serem percebidos por pessoas espiritualmente mais sensíveis, gerando medo em algumas. Em um espaço de cinco horas depois que tudo começou, houve diversos incêndios e acidentes domésticos, assim como acidentes de trânsito. A cidade de Yukigasaka havia se tornado um caos durante a madrugada e a imprensa estava começando a se concentrar em muitos pontos, somente causando mais transtornos aos serviços de policiamento e bombeiros.
Só faltava uma autorização de Elianov para que Helga pudesse passar para o outro lado, mas ele parecia estar tão ocupado com um caso grave de fuga de unicórnios negros para o Camboja, que havia se esquecido de dar o aval para a saída de Helga para o outro lado. Então, Helga teve a idéia de utilizar seu poder psíquico para entrar em contato com ele, mas foi tudo em vão. Infelizmente, ele havia bloqueado sua mente para não ser incomodado durante o trabalho. Só lhe restava esperar até que Elianov decidisse lhe dar atenção... porém, enquanto o tempo passava, a situação no Japão ficava mais grave. Os espíritos imundos se espalhavam cada vez mais, fazendo com que cada esquina ficasse mais perigosa do que o normal. Como eram, em sua maioria, espíritos condenados e cheios de ódio, causavam diversos acidentes pelos arredores do hospital inicialmente, além de serem percebidos por pessoas espiritualmente mais sensíveis, gerando medo em algumas. Em um espaço de cinco horas depois que tudo começou, houve diversos incêndios e acidentes domésticos, assim como acidentes de trânsito. A cidade de Yukigasaka havia se tornado um caos durante a madrugada e a imprensa estava começando a se concentrar em muitos pontos, somente causando mais transtornos aos serviços de policiamento e bombeiros.
Quanto mais rápido saísse a
autorização para Helga se dirigir ao local, mais cedo tudo se resolveria... mas
do jeito que as coisas andavam, a situação poderia ficar logo fora de controle,
talvez obrigando-a a dirigir-se ao outro mundo acompanhada por mais um mago.
Ela, então, esperou por aproximadamente mais quarenta minutos até que
finalmente teve uma resposta de Elianov. Ele, de repente, projetou-se em sua
frente em uma espécie de cortina de fumaça levemente arroxeada, dando-lhe as
instruções sobre o que fazer no mundo humano. A ordem que Helga recebeu foi de
ir sozinha e fechar o portal acidentalmente aberto; depois, teria que
aprisionar todos os espíritos soltos na cidade em um “Gestesbol”, uma espécie
de globo utilizado para aprisionar seres espirituais, e mandá-los de volta para
o mundo a que pertenciam. Seria uma tarefa fácil, se não fosse o fato de haver
por volta de dez mil espíritos enfurecidos vagando pela cidade e causando o
caos...
Helga recebeu de Elianov o Gestesbol e um artefato chamado de “Dikthod Armbant”, ou “Bracelete de Densidade”, geralmente abreviado para simplesmente “D.A.”. Tal artefato ajuda seu dono a concentrar seus poderes e gerenciá-los precisamente, a ponto de poder controlar bem as quantidades de força a serem utilizadas em cada movimento executado. O “D.A.” geralmente torna-se de pouco uso ou até inútil para magos mais experientes, mas no caso de Helga, ainda se fazia muito necessário, pois ela não conseguia controlar direito seu poder espiritual, que se emanava em grandes quantidades e poderia lhe causar alguns problemas, como a atração de espíritos indesejáveis.
Helga recebeu de Elianov o Gestesbol e um artefato chamado de “Dikthod Armbant”, ou “Bracelete de Densidade”, geralmente abreviado para simplesmente “D.A.”. Tal artefato ajuda seu dono a concentrar seus poderes e gerenciá-los precisamente, a ponto de poder controlar bem as quantidades de força a serem utilizadas em cada movimento executado. O “D.A.” geralmente torna-se de pouco uso ou até inútil para magos mais experientes, mas no caso de Helga, ainda se fazia muito necessário, pois ela não conseguia controlar direito seu poder espiritual, que se emanava em grandes quantidades e poderia lhe causar alguns problemas, como a atração de espíritos indesejáveis.
Oito horas da manhã no Japão. A
situação em Yukigasaka estava cada vez pior. Havia carros de polícia e
caminhões de bombeiro transitando por todos os lados da cidade, e já havia sido
declarado o estado de sítio. Na mídia, espalhava-se a notícia de que uma escola
havia se incendiado por motivos desconhecidos e de que diversas construções e
pessoas haviam sido atingidas por carros desgovernados. Os motoristas
sobreviventes alegavam ver vultos de pessoas e animais que apareciam
repentinamente em frente a seus carros, fazendo-os mudar de direção
instintivamente por meio de reflexos, o que causou pelo menos cinqüenta
acidentes. Diversas pessoas apresentavam um estado semelhante ao transe, o que
era muito preocupante. Havia outros que tinham suas personalidades
drasticamente mudadas e faziam discursos sem o mínimo nexo, ora alegando serem outras
pessoas, ora acusando os outros de atrocidades nunca cometidas. Ninguém sabia o
que estava acontecendo. A suposição geral feita pelos especialistas era a
possibilidade de uma contaminação por agentes psicotrópicos nos alimentos ou na
água ingeridos pela população, causando alucinações e fuga da realidade.
Helga, finalmente, posicionou-se
acima do portal e recitou a senha mágica: “Dor’o
openan. Gaudenphalkespalais’oit Aomori-ken Yukigasaka-shi’nast.”
Então, um instante depois, ela desapareceu em meio a um brilho azul e reapareceu em um espelho que ficava dentro de uma sala no templo xintoísta de Yukigasaka.
Então, um instante depois, ela desapareceu em meio a um brilho azul e reapareceu em um espelho que ficava dentro de uma sala no templo xintoísta de Yukigasaka.
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